quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ventos

Os ventos te trouxeram até mim.
Seus medos te afastaram.
O mar te trouxe até mim.
Seus medos te dragaram.
O que quer de mim?

Disposto ao beijo.
Disposto a saciar teus desejos.
Mas suas mãos me afastam.
Seus receios me empurram sem compaixão.

Disposto a mostrar os caminhos.
Disposto a trilhar novos caminhos.
Mas suas pernas te levam para longe.
Longe de onde estou agora.
Medo.

Foi o medo que te afastou de mim.
E eu resignado, aceito.

Abaixo a cabeça e sinto.
Sinto o sol se pôr.
Sinto suas mãos me largarem.
Sinto seus lábios repelirem os meus.
Sinto a solidão.

Pra mim, não basta.
Mas preciso aceitar.
Preciso aceitar seus medos
Por você e por mim.
Preciso deixar que vá.
Preciso (não quero) ficar sozinho.
Sinto sono e resignação.
Confesso: também sinto medo!
Mas meu medo me aproxima,
Mas você não aceita.
Parece que vamos seguir sós.
Um distante do outro.
Um sem o outro.
Medo e medo.
Sós.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Eu em ti

Tudo que é voraz, se devora.
Tudo que é intenso, cega.
Tudo que é grandioso, não cabe em si.

Alma pequena.
Alma difusa.

Almas perdidas.
Cegaram-me.
Ensurdeceram-me com promessas vazias.
Com corpos suados e contorcidos.
Agora você vem.
Tem espaço para você em mim.
Tem um buraco para você em mim.
Um abismo desnudo e calmo.

Sou víceras partidas e delegadas à solidão.
Com você não quero ser fraco e nem impreciso.
Quero ser forte e integro.
Quero ser sua alma e seu paladar.
Quero ser seu pensamento mais íntimo e sexo.

Quero partir e voltar.
Quero que você vá.
Vá em mim.
Vá em meu corpo, na sua busca mais árdua.
Você se achará em mim.

Eu em ti.
No silêncio, nas lágrimas e no suor.
Nos campos, vales e na montanha russa.
Cuidaremos um do outro
Pois não podemos perder a alma que nos alegra o dia.
Não podemos perder a alma que nos suspira.
A alma que nos joga no chão, na cama, ao vento.
Não podemos perder mais nada.

Torne-se um só.
Você anda dividido demais.
Você anda fragmentado demais.
Não vou conseguir ser sua alma se estiver tão despedaçado.
Junte-se!
Tenha certeza que não haverá mais perdas.
Não haverá mais explosões.
Eu em ti.
Nada será tão intenso e perene como eu em ti.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Novidade

Insônia de novo.
Dor nas costas de novo.
Tudo de novo?
Parece que vem gripe de novo!
Ah, não! Nas minhas férias não!

Também não quero de novo!
Não quero nada novo!
Pensando bem, camisetas novas não seriam tão ruim não!

Plantas novas?
Uma boa pedida também.

Cuecas novas? Já tenho!
Emprego? Estou contente com o que eu tenho!

O resto, a gente se vira com o que tem!

Mas tem coisas que sempre vêm...
Vêm com cara de novo, mas você tem certeza que viu...

Talvez o melhor é aceitar e se surpreender...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Então...

Então deve ser um erro quando a gente aprende... costumamos errar novamente. É como aquele vício camuflado em atitude barata que a gente se envergonha de ter. É mais ou menos assim, mascar chiclete de boca aberta até ele perder o gosto e depois colocá-lo debaixo da cadeira.

É mais ou menos assim.

Então deve ser um erro quando achamos que acontece sempre. E não nos importamos com suas já conhecidas conseqüências. É mais ou menos assim, beber até cair, fazer coisas que sempre lembraremos mas diremos que foi inconsciente.

É mais ou menos assim.

Então é tudo mais ou menos de um jeito ou de outro. É um meio termo camuflado em sua exatidão.

Estamos sempre ocupados, distraídos, distantes porque sempre estamos acostumados a não aprender. Aprender que tudo requer atenção, cuidado, mimos. Nós precisamos disso tudo, mas é mais ou menos assim, se nós tivermos, vai estar bom do jeito que está. Não vou precisar ceder, dar ou retribuir.

Então deve ser um erro quando guardamos nossas lembranças em algum lugar da mente. Vamos errar tudo de novo. É mais ou menos assim, um dia eu vou usar esse massageador de solas do pé que eu comprei do catálogo da Avon. Mas vai ficar escondido no fundo da gaveta porque eu nunca vou lembrar que um dia eu o comprei.

É mais ou menos assim.

Memória seletiva, sem seleção nenhuma.

Então não deveriamos selecionar tantas coisas assim. Deveriamos organizar tudo em caixas e gavetas para que possamos consultar nossas lembranças e nossos erros para que um dia tudo deixe de ser tão "mais ou menos assim".

domingo, 2 de outubro de 2011

Em punho...

Carrego uma rosa vermelha em punho cerrado...
Aperto seu talo com tanta força que os espinhos entram em minha pele...
Sangro.
Perguntou-me porque tanta força...
Não sei se aperto assim para estragar sua beleza
Ou se é medo da sua fuga.
Ouço os espinhos rasgarem minha pele...
Ouço o barulho da dor rompendo o silêncio...
Mas não consigo parar de apertar-lhe.
Quero fragmentar meu medo e meu desejo.
Destruir-lhe!

Ando pela rua sem saber onde ir.
Preciso de um cigarro.
Preciso de água para lavar o sangue...
Não sei o que fazer com você.
Continuarei te esmagando com a outra mão.
E depois de sangrar novamente,
Pisarei descalço sobre seus restos
Na esperança vã de que ainda lhe restem espinhos.

sábado, 1 de outubro de 2011

Ártico

Venha ao meu continente gelado.
Procure algo que te aqueça,
Incandescente.
Congelei o pouco que resta de meu coração vazio.
É isso que você vai encontrar.
(Realmente é isso que você quer)

Não brinque comigo.
Esculturas de gelo derretem com o calor dos corpos.
Derreto.
Derreta-me.
Liquifaça-me.
(Realmente é isso que você quer)

Seu prazer é me destruir.
Procuro alguém para me aquecer e vejo que não é você.
Sozinho.
Eu e você sozinhos.
E eu não consigo me aquecer neste frio.
Também não quero.
Não agora.
Não com você tão perto de mim,
Procurando o mesmo que eu.
Você me achou, achou vida em mim.
Eu procurei, fui até o Ártico e me perdi.
Descobri que nasci para ser frio.
Derreta-me sem piedade.

Não posso esperar por mais ninguém.
(Realmente é isso que quero)